terça-feira, 15 de novembro de 2011

A BEM DA VERDADE


Com indispensável espírito de crítica à Doutrina que professamos, a fim de que não venhamos a incorrer no equívoco do dogmatismo, analisemos as obras do chamado Pentateuco Kardeciano.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS: extraordinária obra que encerra os Princípios Básicos, inamovíveis do Espiritismo, e que, em seus fundamentos, jamais será ultrapassada. Não obstante, em sã consciência, não podemos afirmar que encerre toda a Verdade, que, em seu natural dinamismo, sob a ótica da Fé Racionada, sempre haverá de acompanhar as luzes do entendimento humano.

O LIVRO DOS MÉDIUNS: trabalho excepcional e sem precedentes na história do Espiritualismo, através do qual o Codificador, por assim dizer, regulamentou, de maneira ética, o intercâmbio entre os Dois Planos da Vida. Todavia, mais direcionado para a orientação da mediunidade de natureza psicográfica, e publicado em 1861, não contém informações mais abrangentes sobre os vários aspectos mediúnicos da atualidade. O seu mérito indiscutível foi o de, principalmente, separar mediunidade de obsessão, concedendo cidadania aos médiuns que, até então, eram considerados na condição de alienados mentais.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO: das obras que constituem o Pentateuco, em nossa sincera opinião, é sempre a mais atual, de vez que, apoiando-se nos ensinamentos de Jesus, enfeixam as “palavras de Vida Eterna”, com aplicação prática indispensável à evolução do espírito. Dos livros da Codificação, contrariamente ao que dizem certos críticos, consideramos que, sob o aspecto doutrinário, ele seja mesmo o único a não exigir necessários desdobramentos.

O CÉU E O INFERNO: este quarto volume da Codificação Espírita nos conduz ao limiar da vida do espírito no Mundo Espiritual, e, da época em que foi escrito até agora, tem importância fundamental para o melhor conhecimento de como funciona a Lei de Causa e Efeito. Nele, Allan Kardec abriu espaço para o depoimento dos habitantes comuns da Vida além da morte, com o propósito de que a visão dos homens sobre ela não se restringisse à opinião dos Espíritos Superiores. Importante ensaio para as revelações que, cerca de um século depois, caberia a André Luiz, através da mediunidade de Chico Xavier, dar legítima continuidade.

A GÊNESE: das Obras consideradas básicas, talvez seja, pela sua própria natureza, a menos completa, porque, com um enfoque mais científico da Criação, esteve e está sujeita às constantes descobertas no que tange à maior aproximação da realidade concreta, principalmente do seu capítulo VI ao X! Em alguns trechos destes referidos capítulos, têm-se a participação espiritual de Galileu Galilei, pela mediunidade do jovem astrônomo Camille Flammarion, que, nos conceitos exarados, não hesitou em declarar a relatividade de seus conhecimentos.

Assim sendo, diz-nos o bom senso que não se deve limitar o conhecimento do Espiritismo apenas e tão somente a Allan Kardec, sumariamente rotulando de antidoutrinário o que não esteja explícito nas obras de sua lavra.

Por outro lado, isto não significa dizer que toda revelação proveniente do Mundo Espiritual, através desse ou daquele médium, deva ser acatada e incorporada à Doutrina, sem que, antes, passe por criteriosa análise dos estudiosos e pesquisadores.

Para mim, particularmente, e para inúmeros espíritos de minha condição, a Obra mediúnica realizada por Chico Xavier, representa, pois, um avanço no conhecimento espírita como um todo, com destaque para os livros de autoria de Emmanuel e André Luiz, que, por sua vez, se fizeram intermediários de elevados Instrutores.

Passados já 154 anos do lançamento de “O Livro dos Espíritos”, sob pena de estagnação doutrinária, e injustificável ortodoxia, em matéria de Espiritismo não podemos nos ater apenas e exclusivamente a Kardec, embora ele se constitua para nós em valioso ponto de partida e inquestionável referência.

É chegado o momento de o Espiritismo, como filosofia interessada no conhecimento pleno da Verdade, sem, no entanto, jamais abdicar da figura do Cristo, interagir com outros ramos do conhecimento humano, estabelecendo com todos eles indispensável conexão.

Não devemos – é o meu ponto de vista – continuar propagando que tenhamos no Espiritismo um “Kardecismo”, quando, em verdade, o que nele temos é o Cristianismo em sua mais pura essência!

Que não nos falte, portanto, o indispensável discernimento para não fanatizarmos em Kardec, como se o Espiritismo, a partir de Kardec mesmo, mais nada tivesse para nos oferecer.


INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 8 de novembro de 2011.

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